domingo, 28 de julho de 2013

A população dá o seu grito!

As manifestações no Brasil no ano de 2013 ganharam uma proporção grande e territorialista tomando as ruas das principais cidades brasileiras.​

Sobre as mobilizações no Brasil em junho, chamada internacionalmente de Primavera Brasileira — apesar de não ser primavera — lê-se sobre um dos grandes pensadores do século passado Jesús Martin-Barbero. Dentre seus livros, destaca-se o brilhante “Dos Meios às Mediações”. Nesse livro, Barbero, relembra que durante um tempo, marginalizou-se a massa, pois essa não pertencia à nova burguesia, tampouco ao governo. Não havia representação, mas ainda sim era uma massa temida. De acordo com o autor, “era uma massa que não encontrava um lugar político, nem nos partidos nem nas organizações tradicionais da classe trabalhadora, mas cujas expressões de violência revelavam a força de que era capaz.” (p.226)

É exatamente o que está acontecendo — ou aconteceu — no país em junho de 2013. Mesmo Babero referindo-se aos anos de 1930, o texto e a análise tornou-se atemporal, considerando a perspectiva de luta que ganhou as ruas das principais cidades brasileiras nesse ano.

Ainda discorrendo sobre os anos de 1930, Berbero lembra que para dar às massas os direitos urbanos necessários — tais como trabalho, saúde, educação e diversão — foi necessário uma imposição revolucionária.

Em recente discurso na cerimônia de lançamento do Marco Regulatório da Mineração, realizada no Palácio do Planalto, em Brasília, a presidenta Dilma Rousseff falou que as vozes das ruas “precisam ser ouvidas, elas ultrapassam os mecanismos das instituições, das entidades de classe, dos partidos políticos, da mídia”(...) “Foi um recado aos governantes de todas as instâncias. Essa mensagem é por mais cidadania, mais escolas, mais hospitais. Essa mensagem mostra a exigência de transporte público de qualidade e a preço justo. É o repúdio à corrupção e ao uso indevido do dinheiro público. E queria dizer aos senhores que a  minha geração sabe o quanto isso nos custou. Quem foi às ruas quer mais. Mais educação, mais transporte, mais saúde”, terminou.

Esse discurso corrobora com a ideia de Barbero sobre a força das ruas e o temor que as instituições legislativa e executiva têm dessa massa. Para o pensador, essa massificação afetou a todos. As classes altas temiam a massificação, e sentia desprezo pelas ofertas culturais dispensadas a essas massas.

Próximo à ideia de Berbero, Edgar Morin, filósofo francês, também discorre sobre a força motora que tem a população massificada. Segundo o autor, a mesma sinergia que elas operam no imaginário do Estado como força política, elas também operam na forma com que movem a cultura. É no seio dessa classe massificada que reside o poder da transformação e/ou da reconfiguração dessa mediação instaurada pela cultura.

As manifestações no Brasil no ano de 2013 ganharam uma proporção grande e territorialista. O impacto dessa massa nas ruas irá surrupiar o cômodo trânsito e discursos que políticos da nação tinham desde as passeatas de 1992 e os efeitos dessas manifestações ainda serão colhidos.